segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Nulidade ideológica, desinteresse político e manipulação



          É inegável que a política está presente em todos os lugares. É inegável que ela é a força que move, em diversas frentes, nossa guerra pela sobrevivência no mundo. Há política no esporte, há política no nosso trabalho, há política na guerra, há política na paz, há política na economia e há política até mesmo nas relações sociais e no contato que fazemos com nossos semelhantes no dia a dia. É impossível, portanto, tentar negar sua existência ou tentar colocá-la de fora da vida humana. Mais intolerável ainda é tentar excluir a política da própria política. E é exatamente isso que parte da imprensa e da população brasileira estão tentando fazer.
          Política é ideologia. Ela não existe sem embasamento ou posicionamento ideológico. Até mesmo a falta de ideologia pode ser considerada um posicionamento. Alguns partidos no Brasil, como o PSD de Kassab e o novo Rede Sustentabilidade de Marina Silva, tentam fugir da rotulação ideológica, dizendo não serem "nem de esquerda, nem de direita e nem de centro" ou "nem oposição e nem situação", como declarou Marina Silva no ato de fundação de sua nova legenda - que não pretende sequer chamar-se "partido". Esta falta de posicionamento pode levar determinados grupos políticos, como estes citados, a um verdadeiro limbo.
          Ao negar-se a política, nega-se também a capacidade de se fazer uma reflexão sobre a situação do país, assim como acaba por criar uma população ignorante, desmotivada e frágil no campo ideológico. E ninguém, não só a política, sobrevive sem ideologias. Os que não as possuem, acabam sendo dominados por aqueles que as possuem. Por isso, a negação política se torna também a negação da própria civilidade e da dignidade humana. Um trabalhador que se diz apolítico, que se declara contra todo e qualquer político e livre de qualquer ideologia, será facilmente manipulado e dominado por seu patrão, caso este possua claras convicções ideológicas.
          A política é um poder. E aqueles que dominam este poder através de convicções e ideias, irão trabalhar a favor de seus interesses, reduzindo a um estado de nulidade e irrelevância aqueles que se negam a entender as relações complexas que estão contidas na vida política de seu país, estado, cidade ou comunidade. Portanto, por mais que esteja "na moda" a despolitização, a negação política e o ceticismo ideológico, é necessário que tenhamos o conhecimento de que não há nenhuma vantagem nisso. É uma manobra utilizada por aqueles que são fieis às suas convicções para dominarem os que estão ao seu redor.
          No momento em que dizemos que no Brasil não há direita e nem esquerda, estamos reduzindo nossa capacidade de raciocínio político a nada. Estamos reduzindo a política a um mero jogo sujo de interesses pessoais. É exatamente isso que querem aqueles que pretendem dominar a política: gerar desinteresse na população, para que esta seja dominada mais facilmente. A mídia é a principal intérprete desta trama. Os barões que a dominam, convictos de sua ideologia liberal, pró-mercado e pró-lucro, pretendem, através do desinteresse político do povo, torná-lo refém de suas ideias.
          É por isso que existe apenas uma arma para combater esta dominação: a politização cada vez maior da população. O engrandecimento ideológico também. O povo precisa ter noção de seus direitos e comprar ideias que os defendam. Ele não deve jamais desacreditar na política, para não se tornar escravo daqueles que pretendem manipulá-lo a favor de seus interesses. Precisamos, como cidadãos, como parte do povo, tomar a política para nós mesmo. Seja cobrando os representantes que elegemos, seja tomando parte ativa no poder. Não, o Brasil não precisa de mais políticos. Nem indivíduos e nem partidos. O Brasil precisa é de mais pessoas que acreditem na política.