Política é ideologia. Ela não existe sem embasamento ou posicionamento ideológico. Até mesmo a falta de ideologia pode ser considerada um posicionamento. Alguns partidos no Brasil, como o PSD de Kassab e o novo Rede Sustentabilidade de Marina Silva, tentam fugir da rotulação ideológica, dizendo não serem "nem de esquerda, nem de direita e nem de centro" ou "nem oposição e nem situação", como declarou Marina Silva no ato de fundação de sua nova legenda - que não pretende sequer chamar-se "partido". Esta falta de posicionamento pode levar determinados grupos políticos, como estes citados, a um verdadeiro limbo.
Ao negar-se a política, nega-se também a capacidade de se fazer uma reflexão sobre a situação do país, assim como acaba por criar uma população ignorante, desmotivada e frágil no campo ideológico. E ninguém, não só a política, sobrevive sem ideologias. Os que não as possuem, acabam sendo dominados por aqueles que as possuem. Por isso, a negação política se torna também a negação da própria civilidade e da dignidade humana. Um trabalhador que se diz apolítico, que se declara contra todo e qualquer político e livre de qualquer ideologia, será facilmente manipulado e dominado por seu patrão, caso este possua claras convicções ideológicas.
A política é um poder. E aqueles que dominam este poder através de convicções e ideias, irão trabalhar a favor de seus interesses, reduzindo a um estado de nulidade e irrelevância aqueles que se negam a entender as relações complexas que estão contidas na vida política de seu país, estado, cidade ou comunidade. Portanto, por mais que esteja "na moda" a despolitização, a negação política e o ceticismo ideológico, é necessário que tenhamos o conhecimento de que não há nenhuma vantagem nisso. É uma manobra utilizada por aqueles que são fieis às suas convicções para dominarem os que estão ao seu redor.
No momento em que dizemos que no Brasil não há direita e nem esquerda, estamos reduzindo nossa capacidade de raciocínio político a nada. Estamos reduzindo a política a um mero jogo sujo de interesses pessoais. É exatamente isso que querem aqueles que pretendem dominar a política: gerar desinteresse na população, para que esta seja dominada mais facilmente. A mídia é a principal intérprete desta trama. Os barões que a dominam, convictos de sua ideologia liberal, pró-mercado e pró-lucro, pretendem, através do desinteresse político do povo, torná-lo refém de suas ideias.
É por isso que existe apenas uma arma para combater esta dominação: a politização cada vez maior da população. O engrandecimento ideológico também. O povo precisa ter noção de seus direitos e comprar ideias que os defendam. Ele não deve jamais desacreditar na política, para não se tornar escravo daqueles que pretendem manipulá-lo a favor de seus interesses. Precisamos, como cidadãos, como parte do povo, tomar a política para nós mesmo. Seja cobrando os representantes que elegemos, seja tomando parte ativa no poder. Não, o Brasil não precisa de mais políticos. Nem indivíduos e nem partidos. O Brasil precisa é de mais pessoas que acreditem na política.
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