terça-feira, 11 de setembro de 2012

11/09


       

          Era 11 de setembro de 1973. Salvador Allende, primeiro líder socialista eleito democraticamente no mundo,  foi acordado com um telefonema em sua residência em Santiago, pelo qual foi informado de que as forças armadas haviam se sublevado. Até então, Allende não imaginava a gravidade da situação que se iniciava. Ele possuía então, somente uma única certeza: todas as movimentações reacionárias da burguesia chilena, em conluio com agentes da CIA, haviam chegado ao estopim do que poderia ser o início de uma guerra civil. Os intentos em mudar o Chile, a "Via chilena ao socialismo", as modificações na estrutura social do país, incomodaram a classe dominante. Esta, mostrou seu lado mais perverso, egoísta e golpista. Apoiou, em grande parte, o golpe de Estado que iria ocorrer naquele mesmo dia, que levaria o Chile a uma longa e sangrenta ditadura militar liderada por um, até então, homem de confiança do presidente Allende, General Augusto Pinochet.

"Colocado em um trânsito histórico, pagarei com minha vida a lealdade ao povo" - Salvador Allende, último discurso, 11 de setembro de 1973.

          Após inúmeras tentativas de se eleger presidente do Chile, Salvador Allende triunfou finalmente em 1970, sob uma aliança que unia todos os partidos da esquerda chilena: a Unidade Popular. Foi então que pôde colocar em prática todos os projetos ambicionados pelo povo chileno, especialmente, pelas classes mais baixas. A chamada "Via chilena ao socialismo" iria implantar princípios socialistas, através de leis, para tentar diminuir a desigualdade social que reinava no Chile do começo dos anos 70. Esta tarefa, porém, não seria fácil. Os EUA, através da CIA, interviram através de um boicote, contando para isso, com a ajuda do empresariado chileno.

"Aqui não há Primavera de Praga, é a Primavera do Chile" - Salvador Allende, declaração ao diário mexicano Excelsior.

          Ao longo de seu governo, Allende enfrentou uma dura resistência da burguesia conservadora e reacionária do Chile. A mídia, o empresariado e os latifundiários, se tornaram a principal força opositora ao governo. Manipulavam, sabotavam e prejudicavam o andamento da economia chilena de todas as maneiras possíveis. Começaram com o chamado "desabastecimento", buscando levar o caos ao país através da falta de alimentos e bens de consumo no mercado. Assim surgiram as chamadas JAP (Juntas de Abastecimento e Preço), organizações populares supervisionadas pelo Estado, que buscavam garantir a distribuição igualitária de alimentos e lutar contra o boicote instaurado pela burguesia e a classe média, através dos comerciantes.

"Com as dificuldades próprias dos que andam em um Ford ano 1920 e por uma estrada esburacada, vamos aos solavancos, mas avançando e avançando" - Salvador Allende, declaração a correspondentes internacionais.

          A nacionalização do cobre, entre outras medidas, ajudou a fortalecer o poder de compra da classe trabalhadora chilena. Também com o apoio do governo, houve uma ampla politização e conscientização das massas populares em relação a seus direitos como classe social e como base de sustentação da economia nacional. Esses fatores assustaram a burguesia, especialmente os empresários do setor industrial, que se viam ameaçados com a politização de seus empregados. Com isso, a sociedade chilena tornou-se extremamente polarizada e o conflito de classes aumentou, o que serviu como argumento para que a própria burguesia acusasse Allende de "dividir" o país e de destruir a "harmonia" nacional. Harmonia falsa e que só interessava aos exploradores das classe trabalhadora.

"A história é nossa, e ela é feita pelo povo" - Salvador Allende.

          Em março de 1973 ocorreram as eleições parlamentares chilenas. As primeiras desde que Allende havia assumido o governo em 1970. A direita se uniu, o Partido Nacional e o Partido Democrata Cristão se aliaram, formando a Confederação Democrática. O intuito era obter maioria no congresso, acusar constitucionalmente o presidente Allende e tirá-lo do poder. Do outro lado, a Unidade Popular buscava obter maioria absoluta para poder seguir com seus projetos de modificação da estrutura social chilena. Antes que a contagem dos votos fosse encerrada, a mídia já anunciava vitória da oposição. Declarava que a Confederação Democrática havia obtido a maioria, abstraindo o fato de que mais de 40% dos votos eram pertencentes à Unidade Popular. Ao terminar a apuração, ficou clara a vitória governista. Allende havia finalmente obtido uma maioria significativa no congresso chileno, aumentando o número de senadores e deputados aliados. Mas a oposição ainda não estava derrotada.

"Em vésperas de um ano novo, seria muito gratificante lhes dizer que tudo será fácil; infelizmente não será assim" - Salvador Allende, mensagem de ano novo em 1973.

          Mesmo com minoria simples no congresso, a oposição consegue atrapalhar os planos do governo de Allende. Investigam, acusam e perseguem ministros e outros integrantes da Unidade Popular. Através de comissões parlamentares de inquérito, convocam membros do governo para se defenderem de acusações injustas, falsas e, através da manipulação de votos dos deputados e senadores, conseguem derrubar 7 ministros em um período de 3 meses. Assim, enfraquecem o governo e iniciam uma crise entre o poder legislativo e o executivo. Mas isso não era o suficiente. O congresso chileno buscava a paralisia total do governo. Em abril, maio e junho, cerca de 15 projetos e propostas do governo são rejeitadas. Também foram cortadas as verbas de outros 30 projetos.

"A história os julgará" - Salvador Allende, 11 de setembro de 1973, último discurso.

          Apesar do boicote parlamentar, o governo da Unidade Popular consegue manter-se firme, graças ao apoio da população. Esgotadas as vias democráticas, a oposição passa então à sua estratégia mais nociva e autoritária: o golpe de Estado. Com o apoio dos EUA, da oposição e da burguesia, as forças armadas tomam Santiago do Chile, bombardeiam o Palácio da Moneda e obrigam Allende a renunciar. Contrariado, ele resiste com o apoio da Guarda Presidencial. Uma vez derrotado e sem saída, ele se suicida com um tiro na cabeça, utilizando para isso um rifle que lhe havia sido presenteado pelo presidente cubano Fidel Castro. Sua família é mandada para fora do Chile, e o governo é assumido por uma junta militar liderada pelo então aliado do governo, o comandante-em-chefe do exército, General Augusto Pinochet. Antes de ser derrotado, ao ser perguntado sobre Pinochet, Allende responde o seguinte: "pobre Pinochet, a esta hora deve estar preso". O presidente havia sido traído. E o povo chileno pagaria o preço desta traição.

"Trabalhadores da minha pátria, tenho fé no Chile e em seu destino. Outros homens superarão este momento cinzento e amargo no qual a traição pretende se impor. Sigam vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, se abrirão novamente as grandes avenidas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor. Viva o Chile! Viva o povo! Viva os trabalhadores!" - Salvador Allende, últimas palavras.

          Nos anos que se seguiram, a ditadura militar chilena fez mais de 3.000 vítimas. Presos, torturados, executados e desaparecidos. Mas o mais triste é que o 11 de setembro chileno ainda não acabou. Ele ainda está presente. Principalmente no Brasil. Ainda está presente na mentalidade reacionária e mesquinha de nossa pequena burguesia. Está presente em nossa mídia golpista que busca manipular a população em prol de seus interesses e dos de seu maior aliado, o capital privado. Está presente em nossa oposição suja, golpista, entreguista, neoliberal e mentirosa. O 11 de setembro chileno está presente em cada um dos ministros do governo que foram obrigados, por pressão da mídia e da oposição, a renunciar, acusados por denúncias falsas, por crimes que nunca foram provados.
          O golpe no Brasil está sempre iminente. O golpe no Brasil é dado diariamente. A cada publicação de nossa imprensa mentirosa, caluniadora, golpista e reacionária. O 11 de setembro ainda não terminou. No Brasil, ele segue presente. E cabe a nós, o povo, mantermos nossos olhos abertos. Estarmos vigilantes e esclarecidos, para não deixarmos que, ainda que por vias legais, seja dado o golpe. Que a verdade prevaleça. Que a justiça vença. Pois a história recompensará seus defensores, que serão para sempre considerados os verdadeiros virtuosos da política brasileira e os legítimos aliados do povo, da soberania nacional e dos interesses do Brasil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário