quarta-feira, 10 de outubro de 2012
PSDB e a nova república do "café com leite"
É curioso, mas tenho reparado em um fenômeno tragicômico no Brasil. Trata-se de uma reedição da velha "república do café com leite". O regime que foi caracterizado pelo revezamento de presidentes paulistas e mineiros no poder, ficou marcado como um período pouco democrático, oligárquico e injusto, sendo triste e nocivo para o povo brasileiro. Povo esse que votava "no cabresto" e que sofria com uma desigualdade social sem tamanho.
Este modelo político foi marcado por dois partidos dominantes: PRP (Partido Republicano Paulista) e PRM (Partido Republicano Mineiro). Estes colocavam, com o apoio da elite, hora um, hora outro, seus candidatos na liderança política do país. Eram servidores das oligarquias cafeeira, de São Paulo, e pecuarista, de Minas Gerais. Mas por que estaria ocorrendo uma reedição desse triste e distante momento histórico em nosso país?
O PSDB (Partido da "Social Democracia" Brasileira), queridinho das elites, da classe média urbana pseudo-burguesa (a petite bourgeoisie) e da mídia tradicionalista, que um dia foi o baluarte da modernidade sócio-econômica e política do Brasil, está em franca decadência. Nestas eleições municipais de 2012, os tucanos elegeram 13% menos prefeitos do que nas municipais de 2008. O número de eleitores do partido também caiu, 4%. Especialmente no Nordeste e no Norte, o PSDB praticamente desapareceu. O que faz dele um partido cada vez mais urbano, elitista e isolado. Porém, se analisarmos os estados de SP e MG, poderíamos até achar que nada é o que parece.
Tanto no interior de São Paulo e em sua capital quanto no estado Minas Gerais, o PSDB ainda mantém uma boa vantagem sobre outros partidos. Somente o PMDB, o "partidão", consegue ter uma predominância maior que a tucana em ambos os estados. Como explicar esse fenômeno? Existência de currais eleitorais em pleno século XXI? É simples. E a explicação começa com ela, a mesma de sempre: a mídia.
Em todo o Brasil, a grande mídia – tanto a nível regional, quanto a nível nacional – possui uma postura conservadora e (neo)liberal. Muitos veículos estão concentrados nas mãos de grandes "barões" das comunicações. Famílias como Marinho, Frias de Oliveira, Civita, Mesquita, entre outras, fizeram verdadeiros impérios no setor. A concentração da mídia, obviamente, acaba fazendo com que jornais, revistas e emissoras de televisão de todo o Brasil, defendam os interesses de seus proprietários. E, é claro, essa influência parte para o campo da política, fazendo com que a imprensa faça campanha para seus aliados que, por sua vez, se prestam ao patético (des)serviço de trabalhar, depois de eleitos, em função dos grupos midiáticos que os apoiaram, deixando os interesses do país e do povo brasileiro de lado.
E quais são os interesses dos grandes "barões" da mídia? A democratização cada vez maior dos meios de comunicação, que poderia fazer crescer o número de concorrentes no setor? A politização cada vez maior dos brasileiros, que poderia diminuir sua influência e sua capacidade de manipulação da população? O estabelecimento de um sistema de ensino público gratuito e eficiente, que poderia – com certeza – formar cidadãos conscientes de seus direitos, cada vez menos dependentes do chamado "jornalismo de denúncia" que é tão explorado pela mídia brasileira? O fortalecimento do Estado presente, firme e responsável pelo equilíbrio social e pela geração de iguais condições para todos, que poderia enfraquecer o setor privado, ao qual estes "barões" pertencem? Será que a mídia tem interesse na realização destes feitos? É claro que não.
O neoliberalismo e sua fórmula mágica da concentração de renda é a ideologia fundamental para nossa mídia elitista, conservadora e tradicionalista. Não um neoliberalismo aos moldes americanos. Um neoliberalismo aos moldes latino-americanos. Este último sendo um regime ideológico que busca a manutenção da pobreza, concentrando a riqueza (os meios de produção) nas mãos da classe dominante. Longe do que o neoliberalismo um dia – um dia, hoje não mais – representou para os EUA, um modelo que pregava a plena liberdade de escolha do indivíduo, debruçando totalmente o desenvolvimento sócio-econômico das pessoas sob o perigoso leito da meritocracia. Ainda assim, o neoliberalismo só serviu para transformar os países pelos quais passou, e nos quais obteve êxito, em pistas dominadas por loucas corridas pelo enriquecimento e construção de fortunas pessoais.
Ok, mas o que o PSDB tem a ver com isso, você deve estar se perguntado. Oras, tem tudo a ver! O neoliberalismo, que já ficou mais do que claramente óbvio ser a principal ideologia defendida e praticada pelos tucanos, é o café e o leite da nova "república do café com leite". A elite, principalmente a midiática, é a nova oligarquia cafeeira e pecuarista. Elite esta que também busca dominar o Brasil através do eixo SP-MG. Mas e o voto de cabresto? Ele está aqui: Veja, TV Globo, as "Folhas" (de S. Paulo e Minas), o "Estadão", O Globo, entre outros. Alguns deles com pequenas filiais e aliados Brasil a fora.
Mas, os tempos são outros. La maison est tombée. A casa caiu para elite e sua mídia em 2002. A passagem do neoliberalismo pelo Brasil foi trágica. Isto, somado ao surgimento do social-liberalismo falho, mas que rendeu frutos, implantado pelo PT, fez ruir o projeto das elites de São Paulo e Minas para o Brasil. Muito provavelmente, com Mensalão ou sem Mensalão, com condenação ou absolvição de José Dirceu e seus "companheiros", é um projeto que jamais terá visibilidade, respeito e credibilidade Brasil a fora. E com a internet, as redes sociais, que hoje são os principais concorrentes da velha e ultrapassada mídia conservadora, só continua burro quem quer. Só não enxerga a realidade das coisas quem não quer. Ou quem não tem capacidade intelectual e cognitiva para. Ou, simplesmente, quem não tem interesses em enxergar, mas que são pessoas fadadas ao desaparecimento.
E para prejudicar ainda mais essa turminha do barulho, que se acha moderninha, liberal e super democrática, o mesmo ódio que nutria Ribeiro de Andrada (III) por Washington Luís, é o mesmo que nutre hoje Aécio Neves por José Serra. E vice-versa, em ambos os casos. Um ódio mútuo. Um ódio que os divide e os enfraquece. Com uma pequena diferença: Serra e Aécio pertencem ao mesmo partido.
Portanto, a situação é esta. Em 2012, tem gente querendo fazer 1898. Os protagonistas, são quase os mesmos. Mas o povo envolvido neste esquema, é outro. O brasileiro de 2012 é diferente do brasileiro de 1898, de 1910, de 1920. É diferente, até mesmo, do brasileiro de 1994, 1998 e 2002. E, sobretudo, o Brasil também mudou. E muito. Então não será fácil para essa gangue tentar recuperar o domínio que um dia tiveram. Na verdade, será quase impossível. O 1º turno destas eleições já foi capaz de mostrar. E o 2º turno também mostrará. Em 2014, idem. O Brasil não é São Paulo. O Brasil não é Minas. E se quiserem passar de Queluz ou Juiz de Fora, a elite terá de abandonar o discurso em pró de si mesma para começar a pensar – ao menos uma vez em sua história – nos interesses do povo brasileiro.
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