terça-feira, 30 de outubro de 2012

O amor venceu



          O amor venceu em São Paulo. Não foi só o PT que venceu. Não foi só Fernando Haddad quem venceu. Não foram somente os paulistanos e paulistanas  que com consciência e dignidade enfrentaram a alienação e a ignorância, votando pela mudança  que venceram. O amor também venceu. Amor este em forma de um lindo e legítimo sentimento de "basta!". Basta de preconceito, basta de ódio, basta de políticas higienistas, basta de ignorância, basta de truculência, basta de falta de humanidade, de consciência e sensibilidade sociais.
          O ódio foi derrotado sim. Legitimamente. Ódio este que foi trazido ao cerne político brasileiro por José Serra, a partir da primeira eleição para um cargo executivo da qual participou: as eleições presidenciais de 2002. Foi ali que começou a trajetória de ódio, de destruição e de desunião. O jogo sujo que caracteriza, não só as últimas posturas do PSDB em eleições, como a postura dos "Serristas", trouxe um mar de lama para a vida política brasileira. Dossiês (verdadeiros ou falsos), centrais de inteligência, conluios com a mídia para a fabricação de factoides, entre outras estratégias, foram amplamente utilizados por Serra, seus aliados e seus apoiadores. Os "Serristas" se tornaram uma perigosa facção dentro do próprio PSDB. Nociva, inclusive, ao próprio partido, já desgastado e em uma trajetória de queda a nível nacional, regional e, agora, estadual.
          Mas o principal sinal que se pode notar com a vitória de Fernando Haddad e, por sua vez, do PT em São Paulo, é que estamos passando por um período de acentuadas mudanças de postura em nossa sociedade. A alienação, a cegueira e a ignorância persistem. Mas, a mídia manipuladora, conservadora e partidária, já não possui mais a influência de antes. O mesmo com o discurso de defesa da ética e da moral. Infelizmente, a sociedade brasileira já está conscientizada de que a sujeira e a corrupção podem partir de todos os lados. O brasileiro já tomou consciência de que, nesta história, não existem limpos ou sujos.
          Que estas eleições sirvam de aviso. Diversos avisos, aliás. O primeiro aviso, às elites e à mídia: as mudanças sociais dos últimos anos transformaram a mentalidade do povo brasileiro de maneira verdadeira, sendo que a manipulação de outrora já não se repete mais. O segundo aviso, ao PSDB e à oposição como um todo: utilizar o "Mensalão" como argumento de que o PT é o partido mais corrupto do Brasil não serve de nada quando se aparece no topo da tabela de partidos com mais casos de corrupção elaborada pelo TSE. O terceiro aviso, aos "antis", aos "do contra" e aos reacionários: cuidado para não se tornarem inimigos do povo, uma vez que este possui – se politizado, conscientizado e mobilizado poder suficiente para passar por cima de quem se coloca perante seus interesses.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

PSDB e a nova república do "café com leite"




          É curioso, mas tenho reparado em um fenômeno tragicômico no Brasil. Trata-se de uma reedição da velha "república do café com leite". O regime que foi caracterizado pelo revezamento de presidentes paulistas e mineiros no poder, ficou marcado como um período pouco democrático, oligárquico e injusto, sendo triste e nocivo para o povo brasileiro. Povo esse que votava "no cabresto" e que sofria com uma desigualdade social sem tamanho.
          Este modelo político foi marcado por dois partidos dominantes: PRP (Partido Republicano Paulista) e PRM (Partido Republicano Mineiro). Estes colocavam, com o apoio da elite, hora um, hora outro, seus candidatos na liderança política do país. Eram servidores das oligarquias cafeeira, de São Paulo, e pecuarista, de Minas Gerais. Mas por que estaria ocorrendo uma reedição desse triste e distante momento histórico em nosso país?
          O PSDB (Partido da "Social Democracia" Brasileira), queridinho das elites, da classe média urbana pseudo-burguesa (a petite bourgeoisie) e da mídia tradicionalista, que um dia foi o baluarte da modernidade sócio-econômica e política do Brasil, está em franca decadência. Nestas eleições municipais de 2012, os tucanos elegeram 13% menos prefeitos do que nas municipais de 2008. O número de eleitores do partido também caiu, 4%. Especialmente no Nordeste e no Norte, o PSDB praticamente desapareceu. O que faz dele um partido cada vez mais urbano, elitista e isolado. Porém, se analisarmos os estados de SP e MG, poderíamos até achar que nada é o que parece.
          Tanto no interior de São Paulo e em sua capital quanto no estado Minas Gerais, o PSDB ainda mantém uma boa vantagem sobre outros partidos. Somente o PMDB, o "partidão", consegue ter uma predominância maior que a tucana em ambos os estados. Como explicar esse fenômeno? Existência de currais eleitorais em pleno século XXI? É simples. E a explicação começa com ela, a mesma de sempre: a mídia.
          Em todo o Brasil, a grande mídia – tanto a nível regional, quanto a nível nacional – possui uma postura conservadora e (neo)liberal. Muitos veículos estão concentrados nas mãos de grandes "barões" das comunicações. Famílias como Marinho, Frias de Oliveira, Civita, Mesquita, entre outras, fizeram verdadeiros impérios no setor. A concentração da mídia, obviamente, acaba fazendo com que jornais, revistas e emissoras de televisão de todo o Brasil, defendam os interesses de seus proprietários. E, é claro, essa influência parte para o campo da política, fazendo com que a imprensa faça campanha para seus aliados que, por sua vez, se prestam ao patético (des)serviço de trabalhar, depois de eleitos, em função dos grupos midiáticos que os apoiaram, deixando os interesses do país e do povo brasileiro de lado.
          E quais são os interesses dos grandes "barões" da mídia? A democratização cada vez maior dos meios de comunicação, que poderia fazer crescer o número de concorrentes no setor? A politização cada vez maior dos brasileiros, que poderia diminuir sua influência e sua capacidade de manipulação da população? O estabelecimento de um sistema de ensino público gratuito e eficiente, que poderia – com certeza – formar cidadãos conscientes de seus direitos, cada vez menos dependentes do chamado "jornalismo de denúncia" que é tão explorado pela mídia brasileira? O fortalecimento do Estado presente, firme e responsável pelo equilíbrio social e pela geração de iguais condições para todos, que poderia enfraquecer o setor privado, ao qual estes "barões" pertencem? Será que a mídia tem interesse na realização destes feitos? É claro que não.
          O neoliberalismo e sua fórmula mágica da concentração de renda é a ideologia fundamental para nossa mídia elitista, conservadora e tradicionalista. Não um neoliberalismo aos moldes americanos. Um neoliberalismo aos moldes latino-americanos. Este último sendo um regime ideológico que busca a manutenção da pobreza, concentrando a riqueza (os meios de produção) nas mãos da classe dominante. Longe do que o neoliberalismo um dia – um dia, hoje não mais – representou para os EUA, um modelo que pregava a plena liberdade de escolha do indivíduo, debruçando totalmente o desenvolvimento sócio-econômico das pessoas sob o perigoso leito da meritocracia. Ainda assim, o neoliberalismo só serviu para transformar os países pelos quais passou, e nos quais obteve êxito, em pistas dominadas por loucas corridas pelo enriquecimento e construção de fortunas pessoais.
          Ok, mas o que o PSDB tem a ver com isso, você deve estar se perguntado. Oras, tem tudo a ver! O neoliberalismo, que já ficou mais do que claramente óbvio ser a principal ideologia defendida e praticada pelos tucanos, é o café e o leite da nova "república do café com leite". A elite, principalmente a midiática, é a nova oligarquia cafeeira e pecuarista. Elite esta que também busca dominar o Brasil através do eixo SP-MG. Mas e o voto de cabresto? Ele está aqui: Veja, TV Globo, as "Folhas" (de S. Paulo e Minas), o "Estadão", O Globo, entre outros. Alguns deles com pequenas filiais e aliados Brasil a fora.
          Mas, os tempos são outros. La maison est tombée. A casa caiu para elite e sua mídia em 2002. A passagem do neoliberalismo pelo Brasil foi trágica. Isto, somado ao surgimento do social-liberalismo falho, mas que rendeu frutos, implantado pelo PT, fez ruir o projeto das elites de São Paulo e Minas para o Brasil. Muito provavelmente, com Mensalão ou sem Mensalão, com condenação ou absolvição de José Dirceu e seus "companheiros", é um projeto que jamais terá visibilidade, respeito e credibilidade Brasil a fora. E com a internet, as redes sociais, que hoje são os principais concorrentes da velha e ultrapassada mídia conservadora, só continua burro quem quer. Só não enxerga a realidade das coisas quem não quer. Ou quem não tem capacidade intelectual e cognitiva para. Ou, simplesmente, quem não tem interesses em enxergar, mas que são pessoas fadadas ao desaparecimento.
          E para prejudicar ainda mais essa turminha do barulho, que se acha moderninha, liberal e super democrática, o mesmo ódio que nutria Ribeiro de Andrada (III) por Washington Luís, é o mesmo que nutre hoje Aécio Neves por José Serra. E vice-versa, em ambos os casos. Um ódio mútuo. Um ódio que os divide e os enfraquece. Com uma pequena diferença: Serra e Aécio pertencem ao mesmo partido.
          Portanto, a situação é esta. Em 2012, tem gente querendo fazer 1898. Os protagonistas, são quase os mesmos. Mas o povo envolvido neste esquema, é outro. O brasileiro de 2012 é diferente do brasileiro de 1898, de 1910, de 1920. É diferente, até mesmo, do brasileiro de 1994, 1998 e 2002. E, sobretudo, o Brasil também mudou. E muito. Então não será fácil para essa gangue tentar recuperar o domínio que um dia tiveram. Na verdade, será quase impossível. O 1º turno destas eleições já foi capaz de mostrar. E o 2º turno também mostrará. Em 2014, idem. O Brasil não é São Paulo. O Brasil não é Minas. E se quiserem passar de Queluz ou Juiz de Fora, a elite terá de abandonar o discurso em pró de si mesma para começar a pensar – ao menos uma vez em sua história nos interesses do povo brasileiro.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Despolitização: a faca que opera o abatedouro


          

          Lidar com minorias despolitizadas é um enorme problema. Você aperta de um lado, ela escapa para o outro. O calo aperta quando surge um candidato apoiado por uma minoria religiosa e por uma igreja opressora dos direitos civis e liberdades individuais. Para onde a minoria despolitizada escapa? Para o lado do discurso liberal (econômico), pseudo-libertário e com uma roupagem progressista e "moderninha". Fogem de um Russomanno para cair num – na verdade, voltar para um – Serra. Mas oras, existem alternativas!
          Se você não é politizado o suficiente para entender que nem tudo o que a mídia liberal e conservadora fala sobre governos trabalhistas e progressistas é verdadeiro, ao menos escolha outras alternativas ainda mais diferentes. Você não precisa votar no PT se realmente acredita quando dizem que ele é o inimigo público número 1 deste país. Você pode votar no Gabriel Chalita. Ele não é de esquerda, não é de direita, não é nada. É peemedebista, somente. Se você quiser um tucanismo mais "moderninho", "descoladinho" e "hype", pode votar na Soninha. Ou então, se você for mais "vermelho", pode votar no Giannazi. Esse tem menos chances de ganhar, mas é uma alternativa. Ainda existem outros candidatos que surgem como alternativas, porém, com chances ínfimas de serem eleitos. Mas nem sempre um voto tem que ser depositado naqueles que têm condições de ganhar. E é devido a esse "engessamento" do voto e da consciência política de alguns, que me pergunto: será que algumas pessoas se importam mais com a própria realidade, com os próprios direitos do que com o bem-estar geral? Existe, de fato, uma noção de bem-estar coletivo?
          Tirar a Parada Gay da Paulista não pode? Não. Oprimir os gays, os umbandistas, entre outras minorias, não pode? Não, não pode. Mas queimar favelas também não pode. Trabalhar em conluio com a mídia para atender aos interesses do poder privada – ops, perdão: poder privado  também não. Apresentar projetos às pressas, fazer obras de metrô apressadas, mal-feitas, com processos de licitação duvidosos, só para comprar votos e garantir a manutenção de curral eleitoral e ainda entregar o controle do transporte a grandes consórcios particulares; também não pode. Inaugurar maquete para conseguir votos em reta final também não. O mesmo que contar com a ajuda de pesquisas de intensão de voto compradas por seus aliados para dar um "empurrãozinho" na reta final. Também não pode. Aliás, até pode. Mas cabe ao eleitor, ao cidadão, abrir os olhos e analisar a veracidade e a verdadeira intenção por trás de algumas medidas.
          Eu tenho mais medo da opressão do poder econômico e privado, do que da opressão religiosa. Principalmente vinda de uma religião minoritária. Contra essa última opressão eu tenho voz. Tenho armas contra. Aliás, aparentemente, já há uma consciência formada em torno disso. Em torno da resistência a este tipo de opressão. Mas e quanto a opressão do poder privado? Existe consciência em relação a ela? Não, não existe. Pois ela compra a todos. Ela é compradora de consciências. Movedora de influências. E tão manipuladora e alienadora quanto a opressão religiosa. Por isso, infelizmente, quase ninguém possui essa consciência. Se venderam e foram devidamente comprados. E ainda criticam evangélicos, votando em candidatos indicados pelo pastor, pelo bispo. Será que eles são os únicos manipulados? A única massa de manobra? O único gado? Eu acho que não.




terça-feira, 11 de setembro de 2012

11/09


       

          Era 11 de setembro de 1973. Salvador Allende, primeiro líder socialista eleito democraticamente no mundo,  foi acordado com um telefonema em sua residência em Santiago, pelo qual foi informado de que as forças armadas haviam se sublevado. Até então, Allende não imaginava a gravidade da situação que se iniciava. Ele possuía então, somente uma única certeza: todas as movimentações reacionárias da burguesia chilena, em conluio com agentes da CIA, haviam chegado ao estopim do que poderia ser o início de uma guerra civil. Os intentos em mudar o Chile, a "Via chilena ao socialismo", as modificações na estrutura social do país, incomodaram a classe dominante. Esta, mostrou seu lado mais perverso, egoísta e golpista. Apoiou, em grande parte, o golpe de Estado que iria ocorrer naquele mesmo dia, que levaria o Chile a uma longa e sangrenta ditadura militar liderada por um, até então, homem de confiança do presidente Allende, General Augusto Pinochet.

"Colocado em um trânsito histórico, pagarei com minha vida a lealdade ao povo" - Salvador Allende, último discurso, 11 de setembro de 1973.

          Após inúmeras tentativas de se eleger presidente do Chile, Salvador Allende triunfou finalmente em 1970, sob uma aliança que unia todos os partidos da esquerda chilena: a Unidade Popular. Foi então que pôde colocar em prática todos os projetos ambicionados pelo povo chileno, especialmente, pelas classes mais baixas. A chamada "Via chilena ao socialismo" iria implantar princípios socialistas, através de leis, para tentar diminuir a desigualdade social que reinava no Chile do começo dos anos 70. Esta tarefa, porém, não seria fácil. Os EUA, através da CIA, interviram através de um boicote, contando para isso, com a ajuda do empresariado chileno.

"Aqui não há Primavera de Praga, é a Primavera do Chile" - Salvador Allende, declaração ao diário mexicano Excelsior.

          Ao longo de seu governo, Allende enfrentou uma dura resistência da burguesia conservadora e reacionária do Chile. A mídia, o empresariado e os latifundiários, se tornaram a principal força opositora ao governo. Manipulavam, sabotavam e prejudicavam o andamento da economia chilena de todas as maneiras possíveis. Começaram com o chamado "desabastecimento", buscando levar o caos ao país através da falta de alimentos e bens de consumo no mercado. Assim surgiram as chamadas JAP (Juntas de Abastecimento e Preço), organizações populares supervisionadas pelo Estado, que buscavam garantir a distribuição igualitária de alimentos e lutar contra o boicote instaurado pela burguesia e a classe média, através dos comerciantes.

"Com as dificuldades próprias dos que andam em um Ford ano 1920 e por uma estrada esburacada, vamos aos solavancos, mas avançando e avançando" - Salvador Allende, declaração a correspondentes internacionais.

          A nacionalização do cobre, entre outras medidas, ajudou a fortalecer o poder de compra da classe trabalhadora chilena. Também com o apoio do governo, houve uma ampla politização e conscientização das massas populares em relação a seus direitos como classe social e como base de sustentação da economia nacional. Esses fatores assustaram a burguesia, especialmente os empresários do setor industrial, que se viam ameaçados com a politização de seus empregados. Com isso, a sociedade chilena tornou-se extremamente polarizada e o conflito de classes aumentou, o que serviu como argumento para que a própria burguesia acusasse Allende de "dividir" o país e de destruir a "harmonia" nacional. Harmonia falsa e que só interessava aos exploradores das classe trabalhadora.

"A história é nossa, e ela é feita pelo povo" - Salvador Allende.

          Em março de 1973 ocorreram as eleições parlamentares chilenas. As primeiras desde que Allende havia assumido o governo em 1970. A direita se uniu, o Partido Nacional e o Partido Democrata Cristão se aliaram, formando a Confederação Democrática. O intuito era obter maioria no congresso, acusar constitucionalmente o presidente Allende e tirá-lo do poder. Do outro lado, a Unidade Popular buscava obter maioria absoluta para poder seguir com seus projetos de modificação da estrutura social chilena. Antes que a contagem dos votos fosse encerrada, a mídia já anunciava vitória da oposição. Declarava que a Confederação Democrática havia obtido a maioria, abstraindo o fato de que mais de 40% dos votos eram pertencentes à Unidade Popular. Ao terminar a apuração, ficou clara a vitória governista. Allende havia finalmente obtido uma maioria significativa no congresso chileno, aumentando o número de senadores e deputados aliados. Mas a oposição ainda não estava derrotada.

"Em vésperas de um ano novo, seria muito gratificante lhes dizer que tudo será fácil; infelizmente não será assim" - Salvador Allende, mensagem de ano novo em 1973.

          Mesmo com minoria simples no congresso, a oposição consegue atrapalhar os planos do governo de Allende. Investigam, acusam e perseguem ministros e outros integrantes da Unidade Popular. Através de comissões parlamentares de inquérito, convocam membros do governo para se defenderem de acusações injustas, falsas e, através da manipulação de votos dos deputados e senadores, conseguem derrubar 7 ministros em um período de 3 meses. Assim, enfraquecem o governo e iniciam uma crise entre o poder legislativo e o executivo. Mas isso não era o suficiente. O congresso chileno buscava a paralisia total do governo. Em abril, maio e junho, cerca de 15 projetos e propostas do governo são rejeitadas. Também foram cortadas as verbas de outros 30 projetos.

"A história os julgará" - Salvador Allende, 11 de setembro de 1973, último discurso.

          Apesar do boicote parlamentar, o governo da Unidade Popular consegue manter-se firme, graças ao apoio da população. Esgotadas as vias democráticas, a oposição passa então à sua estratégia mais nociva e autoritária: o golpe de Estado. Com o apoio dos EUA, da oposição e da burguesia, as forças armadas tomam Santiago do Chile, bombardeiam o Palácio da Moneda e obrigam Allende a renunciar. Contrariado, ele resiste com o apoio da Guarda Presidencial. Uma vez derrotado e sem saída, ele se suicida com um tiro na cabeça, utilizando para isso um rifle que lhe havia sido presenteado pelo presidente cubano Fidel Castro. Sua família é mandada para fora do Chile, e o governo é assumido por uma junta militar liderada pelo então aliado do governo, o comandante-em-chefe do exército, General Augusto Pinochet. Antes de ser derrotado, ao ser perguntado sobre Pinochet, Allende responde o seguinte: "pobre Pinochet, a esta hora deve estar preso". O presidente havia sido traído. E o povo chileno pagaria o preço desta traição.

"Trabalhadores da minha pátria, tenho fé no Chile e em seu destino. Outros homens superarão este momento cinzento e amargo no qual a traição pretende se impor. Sigam vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, se abrirão novamente as grandes avenidas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor. Viva o Chile! Viva o povo! Viva os trabalhadores!" - Salvador Allende, últimas palavras.

          Nos anos que se seguiram, a ditadura militar chilena fez mais de 3.000 vítimas. Presos, torturados, executados e desaparecidos. Mas o mais triste é que o 11 de setembro chileno ainda não acabou. Ele ainda está presente. Principalmente no Brasil. Ainda está presente na mentalidade reacionária e mesquinha de nossa pequena burguesia. Está presente em nossa mídia golpista que busca manipular a população em prol de seus interesses e dos de seu maior aliado, o capital privado. Está presente em nossa oposição suja, golpista, entreguista, neoliberal e mentirosa. O 11 de setembro chileno está presente em cada um dos ministros do governo que foram obrigados, por pressão da mídia e da oposição, a renunciar, acusados por denúncias falsas, por crimes que nunca foram provados.
          O golpe no Brasil está sempre iminente. O golpe no Brasil é dado diariamente. A cada publicação de nossa imprensa mentirosa, caluniadora, golpista e reacionária. O 11 de setembro ainda não terminou. No Brasil, ele segue presente. E cabe a nós, o povo, mantermos nossos olhos abertos. Estarmos vigilantes e esclarecidos, para não deixarmos que, ainda que por vias legais, seja dado o golpe. Que a verdade prevaleça. Que a justiça vença. Pois a história recompensará seus defensores, que serão para sempre considerados os verdadeiros virtuosos da política brasileira e os legítimos aliados do povo, da soberania nacional e dos interesses do Brasil.